sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Noite


Pela noite perdem-se mágoas
Pela noite perdem-se razões
Perdem-se lágrimas
Perdem-se ilusões
E alguem nos diz
Poisa um pouco na minha mão
Não vás embora não, hoje não...!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Ira


Sempre quis acreditar
Que o tempo parava
E que ao mudar o sonho
Nada do que era se reparava

Atrás de todos os loucos sonhos
Não havia maneira de o pronunciar
De lá chegar ou pedir para ser
De subir a ponte e permanecer

Não havia maneira
Não há maneira…

Era louco, era podre e ardor
Doía e consumia-me o sangue das veias
Era uma metáfora que me corrompia a alma
O veneno do seu ódio, da maneira de ser

Era álcool que bebia em cada copo com água
Embriagado de tanto detestar o seu ser
Adorado por gente manchada de ira
Por todo o consumo de sangue e de padecimento

Bebi rios de lágrimas com vanglória
Terá sido o único momento verdadeiro
Depois de tantas flechas nas costas
De tanto veneno nas veias
A minha alma cedeu
Subiu e elevou-se para lá de ti

Os rios secaram, a ira apunhalou-me no cardo
Vezes e vezes sem conta
Morria de tanto gritar sem voz, sem vida
E a tinta que me mordia as mãos foi secando

Porque
Não havia maneira
Não há maneira…

Eras ira em mim
E eu, em ti.

Poema I


Navego sem o vento
Nele vaga por mim mesma
E o que vejo é o cinzento


Parte de mim não existe mais
Sentada aqui de olhos fechados
De punhos cerrados
Joelhos no chão
Oiço o lento pingar do ácido da razão

Grito, grito, grito
Uma dor que me consome de dia
Uma lágrima que me devora a noite
Um respirar apertado que sufoca
Um vazio de não poder dizer toca-me

Tenho a boca seca
Os olhos molhados
Um olhar que me assusta quando me olho
Porque chegaste?
Porque mataste?
Porque fugiste?
Porque rasgaste?

Em mim os dias são noites
As noites são abismos
Os abismos depressão
A depressão os meus torpores
E torpores a minha morte
A morte que aos poucos me sinto entregar

Com um respirar cada vez mais lento
Continuo a navegar
Sinto o embalar das ondas
O vento que me fustiga
O sol que me arde a face
Mas eu tenho um frio
Um frio que me arrefece
Oh meu amor…

Se um dia me encontrarem
Aqui estendida
Com um sorriso nesta boca seca
Com este teu cardo estampado no corpo
Saberão o porquê
Todos eles sentiram o mesmo
Somos todos
Todos eles

E em mim todos estes devaneios
Todos estes segredos
Enquanto olho uma ultima vez para o sol
Rio a gritar,
Choro,
Parto,
Rasgo,
Seco,
Grito,
Morro,
Ah se ao menos me ouvisses…